sábado, outubro 28, 2006

GILBERTO FREYRE E AS ELEIÇÕES

Eu ouço as vozes
eu vejo as cores
eu sinto os passos
de um outro Brasil que vem aí
mais tropical
mais fraternal
mais brasileiro.
Os homens desse Brasil em vez das cores das três raças
terão as cores das profissões e regiões.
Todo brasileiro poderá dizer: é assim que eu quero o Brasil.
Todo o Brasil poderá governar esse Brasil
lenhador
lavrador
pescador
funileiro
carpinteiro
contanto que seja digno do governo do Brasil,
que tenha olhos para ver pelo Brasil,
ouvidos para ouvir pelo Brasil,
coragem de morrer pelo Brasil,
ânimo de viver pelo Brasil,
mãos para agir pelo Brasil,
mãos de escultor que saibam lidar com o barro forte e novo dos Brasis
mãos livres
mãos criadoras
mãos fraternais de todas as cores.
Mãos todas de trabalhadores,
pretas, brancas, pardas, roxas, morenas,
de artistasde escritoresde operários
de lavradoresde pastores
de mães criando filhosde pais ensinando meninos
De mestres guiando aprendizes
de irmãos ajudando irmãos mais moços
de lavadeiras lavandode pedreiros edificando
de doutores curandode cozinheiras cozinhando.
Mãos brasileiras
brancas, morenas, pretas, pardas, roxas
tropicais
sindicais
fraternais.
Eu ouço as vozes
eu vejo as coreseu sinto os passos
desse Brasil que vem aí.
Gilberto Freyre
Fragmentos do poema O outro Brasil que vem aí, de 1926.

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