Há mais de onze anos, a versão oficial sustenta que nove trabalhadores sem-terra e dois policiais caíram durante um confronto na Fazenda Santa Elina, a 20 quilômetros da área urbana de Corumbiara, sul de Rondônia, a 700 quilômetro de Porto Velho (capital do Estado). O caso ocorreu no dia 10 agosto de 1995.
Policiais militares e jagunços contratados por fazendeiros chegaram atirando, em plena madrugada, contra uma multidão de quase 400 pessoas, que incluíam crianças e mulheres. Dentre os sem-terra mortos estava Vanessa, de apenas seis anos de idade, atingida nas costas. Pela versão de vários sobreviventes do Massacre, foram dezenas de mortos, cujos corpos nunca apareceram. Todos foram torturados e teriam sido obrigados a comer o cérebro de alguns dos abatidos.
Vestígios da história
No dia 2 de abril de 2005, estive no local do confronto. Constatei que, na região, a questão agrária não evoluiu na última década. E pior: sobreviventes do Massacre, alguns deles debilitados até hoje e outros com marcas de tiro pelo corpo, têm a certeza da inoperância do Estado com relação à reforma agrária e aos direitos humanos na região. Os verdadeiros responsáveis pelas atrocidades, mortes e torturas continuam livres e espalhando medo na região.
No local, encontrei vários vestígios do antigo acampamento destruído pela polícia e jagunços: embalagens de medicamentos da “farmacinha” dos sem-terra, artefatos de ferro e até a carcaça de uma bicicleta que pertenciam aos trabalhadores. São vestígios de uma história triste e aos poucos esquecida.
Fui ao local acompanhado por vários amigos de Corumbiara - inclusive pelo presidente da Câmara, vereador João Amorim (PT) - e um sobrevivente das torturas feitas pela polícia. Mas os nomes deles serão mantido em sigilo, para se evitar possíveis represálias. Foi este sobrevivente que, emocionado, me mostrou onde funcionava a cozinha, a farmácia, o barracão central do acampamento, que existiu por apenas 24 dias.
Mao Tsetung em Corumbiara
O município de Corumbiara é marcado pelos genocídios de índios, cometidos por latifundiários desde os anos de 1970 e, atualmente, pela escravidão, torturas e assassinatos de lavradores e lideranças: dois meses após o Massacre, foi morto o vereador Nelinho Ribeiro, irmão do presidente do atual presidente do Legislativo, que me acompanhou na visita.
Nas ruas da cidade, um clima de revolta entre os cidadãos mais conscientes –que nunca ganharam o poder local, comandado atualmente pelo PTB. Vários muros, estão pichados com frases revolucionárias que evocam o líder revolucionário chinês Mao Tsetsung.
quarta-feira, outubro 11, 2006
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