segunda-feira, outubro 23, 2006

A "revelação" de Veja: Só coisa requentada e "pito" em Alckmin


A revista Veja, convertida em panfleto da candidatura Geraldo Alckmin, estampa sua frustração na edição que chegou às bancas neste fim de semana. A internet fervia de boatos sobre as bombas com que ela detonaria a candidatura Lula. Deu chabu. A matéria de capa, sobre o filho de Lula, só contém denúncias requentadas, nenhuma delas de uma ilegalidade. Pior: Veja teve de publicar que, ''a poucos dias da eleição, Lula cresce e consegue atrair o voto até de quem escolheu Alckmin no primeiro turno''.
A edição (nº1979, data de acapa 25/10) exige que o leitor faça uma triangulação de matérias não relacionadas para decifrar o seu sentido: a reportagem de capa, O ''Ronaldinho'' de Lula, e outras duas, O fracasso da operação abafa e Alckmin perde o voto de quem o levou ao segundo turno. Articuladas, elas explicam a frustração da porta-voz do neoliberalismo.
Promessas que não se cumprem
''Os dons fenomenais de Fábio Luís, o Lulinha, só apareceram depois que o pai chegou ao Planalto'', insinua Veja. Nas páginas internas, promete ''revelar'' que Fábio Luís atuou como lobista junto ao governo do pai.
As revelações porém são precárias. Uma é a associação da Gamecorp, empresa do filho de Lulka, com a Telemar, já ''revelada'' em dezenas de edições anteriores. Afora ela, a leitura da matéria de Alexandre Oltramari ostenta duas ''ações de lobby'':
1) Encontros com Daniel Goldberg, titular da Secretaria de Direito Econômico do Ministério da Justiça (SDE). Em um desses encontros, ocorrido no início de 2005, Lulinha e Kalil, já então sócios da Telemar, sobre uma hipotética compra da Brasil Telecom pela Telemar, fusão que a lei proíbe, como teria esclarecido Goldberg;
2) Uma exibição do documentário Pelé Eterno para Lula no Palácio do Alvorada, em 2004, a pedido da produtoira do filme, Arlette Siaretta.
''As circunstâncias sugerem''...
Realmente, se Fábio Luís é lobista, não é nenhum Ronaldinho, a julgar por Veja, já que não produziu um só centavo para os interesses que supostamente representou. Toda a matéria é um exercício para driblar essa inconsistência básica, com frases do tipo ''as circunstâncias sugerem que o objetivo mais óbvio [da associação Telemar-Gamecorp] seria comprar o acesso que o filho do presidente tem a altas figuras da República''.
A outra ''revelação'' de Veja é ''que o filho do presidente associou-se ao lobista Alexandre Paes dos Santos, um personagem explosivo, que responde a três inquéritos da Polícia Federal, por suspeitas de corrupção, contrabando e tráfico de influência''. A ''associação'' é outro chabu. Resume-se ao empréstimo de uma sala do escritório de Paes dos Santos para Fábio Luís e seu sócio na Gamecorp, Kalil Bittar, outra vez sem ninguém levar vantagem sobre ninguém.
Não menos desapontadora é a -- segundo a revista -- ''vasta ficha criminal'' de Paes dos Santos. Limita-se aos três inquéritos citados acima, que ainda nem foram a julgamento, e versam sobre ''estripulias nas sombras de Brasília'' cometidas no governo Fernando Henrique Cardoso. A ''ficha criminal'' da própria Veja por certo é muitas vezes mais ''vasta''.
ALCKMIN, CANDIDATO DE VEJA, LEVA "PITO" DA REVISTA
O órgão dos Civita sente-se traído por seu candidato. Diz que ele ''não soube responder'' à ''tática terrorista [o termo é empregado três vezes no texto] da campanha petista que espalhou algumas invencionices sobre uma eventual vitória tucana, sobretudo em relação à privatização''. Até ridiculariza o tucano: acusa-o de ''se fantasiar de estatais'' (alusão à cena, de fato não muito séria, em que Alckmin posou para a imprensa com boné do Banco do Brasil e blusão estampado com as logomarcas do BB, Petrobras e Correio).
A revista ainda reclama que ''Alckmin parecia acuado'' no debate do SBT. E que '' também pecou pela falta de convicção demonstrada ao não defender as privatizações no governo de Fernando Henrique Cardoso''.
Transparece no artigo um sentimento que está presente também em outras redações da mídia grande: Veja & Cia, do alto do notável papel que acreditam ter tido na desconstrução do governo Lula, culpam a ala política do bloco conservador-midiático, e o candidato em particular, pelo fracasso, até agora, em convencer o eleitorado.

Nenhum comentário: