segunda-feira, novembro 06, 2006

Mídia é condenada nas urnas: e agora?

Na festa da vitória, na noite de domingo retrasado, uma faixa enorme, que tomou toda a pista da Avenida Paulista, chamou a atenção dos animados militantes que comemoravam a consagradora reeleição de Lula. “O povo venceu a mídia”. Ela expressou bem o sentimento de milhões de brasileiros diante da deprimente e abjeta cobertura da imprensa nesta batalha política.

Alguns ativistas ainda aproveitaram para gritar “o povo não é bobo, fora Rede Globo”, relembrando o coro que ficou famoso durante a campanha das “diretas-já”. No palanque, um dos oradores aproveitou para desabafar: “Quero mandar um recado para revista Veja: vocês perderam as eleições”. Em pequenas rodinhas, outros cantarolavam: “Ou, ou, ou, a Veja se ferrou”.
De fato, entre outros derrotados no segundo turno, a mídia hegemônica foi uma das mais chamuscadas e ficou bastante desacreditada e desmoralizada. Com raras exceções, jornalões, revistas, rádios e emissoras de televisão tomaram partido na eleição. De maneira escandalosa, como a revista Veja e os jornais Folha de S.Paulo e O Estado de S.Paulo, ou de maneira mais ardilosa, como a TV Globo, o grosso dos veículos de comunicação ocupou seus espaços para linchar o governo Lula e para apresentar de forma positiva ou “neutra” o candidato da oposição neoliberal, Geraldo Alckmin. Na prática, portaram-se como partidos da direita, procurando “pautar a política” e interferir descaradamente no resultado da sucessão presidencial.
Um autêntico “golpe midiático”
O grau de manipulação foi tão brutal que o veterano Marcos Coimbra, dono do instituto de pesquisas Vox Populi, chegou a afirmar que a mídia forçou a realização do segundo turno. A maneira parcial como ela, em especial a TV Globo, divulgou as fotos do dinheiro apreendido na desastrosa tentativa de compra do dossiê da máfia das sanguessugas, foi decisivo para adiar a reeleição de Lula. “Os eleitores foram votar no dia 1º sob um bombardeio que nunca tínhamos visto nem mesmo em 1989... Em nossa experiência eleitoral, não tinha visto nada parecido em matéria de interferência”. Felizmente, a corajosa e irrefutável reportagem de Raimundo Pereira, na revista Carta Capital, serviu para desnudar toda a trama da mídia.
Esse verdadeiro “golpe midiático” foi o desfecho do grotesco processo de deturpação que começou bem antes, com a amplificação dos fatos negativos para satanizar o governo Lula. Segundo Venício de Lima, autor do indispensável livro “Mídia, crise política e poder no Brasil”, “antes mesmo da revelação pública das cenas de corrupção nos correios, em maio de 2005, o ‘enquadramento’ da cobertura que a mídia fez, tanto do governo Lula como do PT e de seus membros, expressava uma ‘presunção de culpa’ que, ao longo dos meses seguintes, foi se consolidando por meio de uma narrativa própria e pela omissão e/ou pela saliência de fatos importantes”. Foi uma montagem típica do clássico “escândalo político midiático”.
Tucanos enrustidos na imprensa
A criminosa manipulação foi comprovada pelas estatísticas do Observatório Brasileiro de Mídia, que fez um rigoroso monitoramento da cobertura nos principais órgãos de imprensa. Durante toda a campanha eleitoral, o presidente Lula teve quase o triplo de menções negativas do seu adversário. Isto sem falar nas manchetes e na edição de fotos e legendas, sempre desfavoráveis ao candidato da coligação “A força do povo”. O Observatório também acompanhou as análises dos mais famosos colunistas da mídia, revelando que eles nada têm de imparciais. Merval Pereira e Mirian Leitão, ambos da Globo, foram os recordistas em ataques ao presidente e isentaram quase totalmente o candidato da direita, tirando seu disfarce tucano.
Tamanha deturpação até gerou certo mal-estar nas redações de alguns destes veículos. Raimundo Pereira revela que só teve como desmascarar a farsa da mídia graças a ajuda de jornalistas indignados com o tipo de cobertura. Em várias redações, o clima nestes dias foi de perseguição, com a imposição de pautas e a proibição de qualquer análise isenta. Na revista Veja, batizada internamente de “fabrica das maldades”, o espaço para o jornalismo crítico e investigativo foi totalmente suprimido – uma autêntica ditadura. Já a poderosa TV Globo arquivou reportagens sobre o envolvimento de tucanos na máfia das sanguessugas e, através do déspota Ali Kamel, o Ratzinger da Globo, manipulou deliberadamente a cobertura na reta final.

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